quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AMOR ESTRANHO

NEI DUCLÓS

Eu sou um poeta estranho
Não fumo, não jogo
não tomo banho

A não ser que seja água
que você apanhe
A não ser que seja fumo
que você prepare
A não ser que seja carta
e você ganhe

Você é um amor estranho
Não come, não passeia
não reclama

A não ser que seja eu
quem compre a carne
A não ser que seja praia
e eu te ame
A não ser que seja dor
e eu me cale

Publicado no livro No Mar Veremos, 2001 Ed. Globo

domingo, 2 de agosto de 2009

histórias sopradas pelo vento

“Que o nosso refúgio não sejam as paredes altas, mas a confiança nos outros”.

Nei Duclós
.
"A gente costuma sobrevoar as pessoas. Não presta atenção. Não as vê. Mas você faz isso, e descobre um romance em cada um." Antenor Nascimento em carta ao autor Nei Duclós

O REFÚGIO DO PRÍNCIPE - histórias sopradas pelo vento
contos e crônicas de Nei Duclós
para ler ou dar de presente: R$ 20,00 reais (frete incluído)
escreva para neiduclos@hotmail.com mandando seu endereço

Ajude a circular o livro, obrigada!
.
poema de hoje:

HÁ UM POEMA EM CADA AMIGO
Nei Duclós

Há um poema em cada amigo
custa descobri-lo
precisa tempo, distância
comunhão, exílio

A magia custa a florir
como os versos simples

O inesquecível está na mão
mas o braço
é um longo caminho
entre a ponta de um dedo
e o coração

(Do livro Outubro, 1975)

domingo, 14 de junho de 2009

OCTOBER - the poem




OCTOBER
Nei Duclós

My soul is turning
Over and slowly
I am sorry to be
A traveler sober

From winter to spring
From april to

October


I know it comes
From flower to
Ground
(Hard to be stone
Breathing the dust
Ripping the trees
Drawing in the clouds)

Inch and brut
I change and float

It´s a time to come

An october truth


(Tranlastion by Nei Duclós)

***
OUTUBRO
Nei Duclós


Trago a nova: eu mudo
lento, e é tudo
Sinto ser assim
por estações: aos turnos

Posso voltar
ao ponto de partida
mas luto

Sei que vem outubro
Flores, fruto de seiva
romperão no mundo
(Trabalho duro:
sugar de pedras
rasgar os caules
colher ar puro)

Lento e bruto
eu mudo
Sei que vem
Outubro


Porto Alegre : A Nação, 1975.
* Illustrations by Levitan

The Book "OUTUBRO" in the New York Public Library

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Palavra escrita


DECLARAÇÃO
Nei Duclós

O que perdi não devolvem
Vou buscar com o revólver

O que ganhei não é posse
Sou um canal, tudo passa

O que falei não se apaga
A vida é uma palavra

O que matei não prestava
Fiz tudo por minha alma

O que senti eu te mostro
Nessa loucura sem trégua

O que sofri foi sem volta
Pois aprendi nos assaltos

O que chorei não se mede
O meu amor é tão vasto

O que procuro eu acho
Estou aberto a machado

Do livro "No meio da rua" de Nei Duclós, Ed.L&PM , 1980
.
Este poema foi musicado por Muts Weyrauch, ouça abaixo:
.

.

sábado, 11 de abril de 2009

R&B

VIAGEM A SATURNO - Poesia de Nei Duclós - Música de Muts Weyrauch . Gravação: CD Mutuca Rock'n'Roll Band. (Voyage to Saturn the gun-play lost in childhood that stayed in the space)


poema de hoje:

VIAGEM À SATURNO
Irei até os aneis de Saturno
Para encontrar objetos perdidos
Lá espera o meu revólver de mocinho

Espantarei as moscas do destino
E viajarei como ave sem rumo
Num belíssimo voo diurno
Como um arco-íris meus pés flutuam
Nei Duclós

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Redator

Nei Duclós na redação do jornal O Estado, de Florianópolis, em 1972. Foto de Cesar Valente.
"A foto acima, por exemplo. Um flagrante na redação do jornal O Estado, que inaugurava suas máquinas off-set e convidara Jorge Escosteguy para ser editor de Nacional e Internacional. Escosteguy me chamou para ser seu redator e é nessa atividade que me encontro na imagem acima. Na redação liderada por Marcílio Medeiros, Filho, fazíamos o melhor jornal possível, limitados por inúmeras contingências. Foto que o Cesar Valente guardava para uma ocasião como esta. O que não dá para aguentar é a cara de felicidade do sujeito folheando um jornal. De que ria o rapaz?" N. Duclós

links:
1. BAÚS DA MEMÓRIA , por Nei Duclós
2. Direto da sacristia, por César Valente

poema de hoje
Os esquemas do passageiro
são espirais
ele entra na roda
mas sempre sai

O passageiro não perde a noção do cais

Nem perde a volta
que faz
nem pousa
pra descansar

O passageiro não perde a noção do mar

(Nei Duclós em "No meio da Rua")

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Minuano

"Armo as velas nesse vendaval"

VIDEO: Minuano - Música de Zé Gomes, Poema de Nei Duclós.

link: Aquele rádio inesquecível

poema de hoje:
MINUANO
O vento é uma pedra polar
que põe o campo de cabelo branco
e acende meu corpo tropical
O pampa não sonha quando balança
ao som do minuano no varal

mas meu coração se lança contra o tempo mau
Armo as velas neste vendaval."
(N. Duclós - Minuano - No meio da Rua)

"Não posso deixar de trair o meu sossego"

foto de de Juarez Fonseca, Nei Duclós na época da UFRGS
link:
Longa vida à UFRGS, por Nei Duclós
.
"(...)O primeiro poema que li, de Nei, assim começava: "Olhem o animal da palavra". Era eu. No tempo em que ele o publicou não pude agradecer-lhe.Pois foi quando se dera na Europa e nas Américas aquele histórico e súbito movimento de maturidade e independência dos jovens - os quais se apresentavam de longas barbas, não para imitarem seus venerandos avós, mas sim, creio eu, numa espécie de reencarnação do homem das cavernas -, visto que era preciso recomeçar tudo. Ora, como eu ia dizendo, não pude agradecer pessoalmente ao poeta, pois jamais conseguia diferençar um barbudinho de outro. Sei que agora ele está barbilampinho. Mas noutra cidade, onde diz coisas assim: "Não posso deixar de trair o meu sossego".(...)"
Texto de Mário Quintana no prefácio no segundo livro de Duclós "No Meio da Rua"

link: Prefácio na íntegra de Mário Quintana

poema de hoje:
Olhem o antípoda
olhem o animal da palavra
É um dinossauro na cidade de vidro
borboleta branca na floresta queimada
Respeitem seu andar
e desconfiem com temor
da sua conversa fiada

Ele é o flagelo do Senhor
e vocês não sabem
(Nei Duclós no livro OUTUBRO)

domingo, 5 de abril de 2009

No mar, Veremos

video, realizado por Ferias Floripa: Poema " No Mar, Veremos", do livro do mesmo nome (Ed. Globo, 2001) de Nei Duclós, musicado e cantado por José Gomes, autor da melodia, dos arranjos e da execução dos instrumentos.
.
obs.: Eu colocaria modo "tela cheia" :)
.
"Lembro que fiquei anos escrevendo o poema. Inventei, na poesia, a lenda do barco que não se entregava, que não se dobrava diante das tormentas, pois sempre voltava e ficava firme na beira. Era uma história da infância transformada pela poesia. Em três ou quatro meses de 1986, quando trabalhava na Lapa de Baixo, em São Paulo, na revista Senhor, eu rescrevi o poema todos os dias. " Nei Duclós
.
poema de hoje:
NO MAR, VEREMOS
Nei Duclós

Pescador de rio pequeno
coloca tudo nos eixos:
seu aço guardado em sótão
sua lança quebrada ao meio

Sabe o rumo da tormenta
o passo da palometa
o avesso de toda malha
o limo sob o sereno

Pescador de rio moreno
charrua de preta escama
seu barco já está a prumo
aguarda a voz do minuano

E se vier o mar
com séquito de sereias
a espuma em seu território
a carne suja de areia?

E se vier o mar
usando arpões de baleia
sargaços ardendo em febre
gáveas altas como estrelas?

Pescador tem a resposta
dobrada em lenço vermelho
que aviva os sonhos do sótão
de aço posto nos eixos

Pois o mar é uma lenda
cultivada pelo vento
a porta de um outro mundo
maré de água estrangeira

é uma espécie de terror
com batalhão de tridentes
generais do imperador
roubo de comerciantes

O mar, para um pescador
criado em água corrente
nos arames dos arroios
entre os moirões das fazendas

é uma dança pelo avesso
a trilha do formigueiro
metralha sob a vanguarda
canhão contra baioneta

Pois se vier o mar, veremos
o barco a remo do pampa
puxando um cordão guerreiro

para atiçar a batalha
para tingir os valentes
para costurar a mortalha
do sal que resseca a rede

que suga o sangue farrapo
com sua manha de peixe

Pescador vem do levante
e um milhão atrás dele

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Time de Futebol


foto: time vice-campeao da segunda série ginasial do colégio Sant'Ana de Uruguaiana. Nei Duclós é o goleirão (terceiro da fileira de baixo da esquerda para direita).
.

Links: Conjunto de cronicas de esportes assinadas por Duclós, vai lá
.
poema de hoje:

EU E O PASSAGEIRO
de tênis
com o andar dos anos cinquenta
que aprendemos nas matinês
Cruzando a praça com nossa roupa gasta
e navegando no fim de todas as tardes

Eu e o passageiro
nas esquinas do tempo
esperando acender as luzes da manhã
opostos e iguais como dois irmãos
ligados por uma ponte subterrânea
do tamanho da palavra Uruguaiana
(Nei Duclós, em No meio da Rua)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Uma Redação

Foto: equipe original do Jornal de Santa Catarina, lançado em 1971 em Blumenau, e hoje conhecido como Santa e de propriedade da RBS.

links:
- A FOTO E OS FATOS, por Nei Duclós
- CORAÇÃO DE VELUDO , por Nei Duclós
- Os Gaúchos do Santa, por César Valente
- A foto e o amigo, por Sérgio Rubim
- Blog do Mário Medaglia

Nei Duclós mais tarde se mudaria para São Paulo, passando pelas redacoes do jornal Folha de S. Paulo, revistas Brasil 21, Senhor, e IstoÉ. Publicou textos também em O Estado de S. Paulo, Veja e Jornal do Brasil. Atualmente mora em Florianópolis e publica cronicas na Imprensa, para acompanhar visite o DIARIO DA FONTE. Textos sobre a profissao de jornalista voce encontra em seu site.
poema de hoje:

SENHA
Somos nós, os pescadores
que fizemos do rio uma casa
e de todos os rios, uma pátria

Somos nós, os pescadores
que cruzamos cidades amargas
com os remos fora d’água
e o rosto lavado em sal

Somos nós, os pescadores
Que nos reunimos em silêncio
ao redor do amanhecer
com o sol preso na mão
e a rede tensa

Somos nós o horizonte
onde aportarão os exércitos
sem direção

Levantar um braço, então
será o bastante
(Nei Duclós, em No mar, Veremos)

terça-feira, 31 de março de 2009

Editor.

foto: Na Fiesp, foto de Marcelo Min.

Atenção: O primeiro que comentar este post de forma nao anonima vai ganhar um postal comum de Florianópolis com escritos do poeta.

poema de hoje:

BARREIRA
O poeta sempre escapa
pela reticência
quem quiser pegá-lo
ficará, no máximo
com o casaco

O poeta é o animal
que cruza todas as fronteiras
enquanto pessoas conservam
inúteis soldados
que pedem documentos
(Nei Duclós, em No mar, veremos)

Um objeto.


foto: Caderneta da época do então ginasio que o poeta guarda até hoje. (Aluno Primeiro da classe no Colégio Sant'Ana - Uruguaiana)

poema de hoje:

LIÇÃO DE TRAVESSIA
parece que do outro lado
está a Argentina

As balsas carregadas da infância
sumiram do meu olhar
mas a ponte permaneceu
como eterna promessa
de que todas as margens
podem ser pisadas

O mundo não tem lado certo
pois há uma ponte sólida
por cima de todas as águas

Nei Duclós em Outubro

segunda-feira, 30 de março de 2009

No elenco

no cinema:

foto: Em 1968 ou 9, preparando-se para entrar em cena no curta-metragem dirigido por Juarez Fonseca, "Farsa".

no Teatro de Arena:

Arturo Ui - 1971
Texto: Berthold Brecht
Direção: Jairo de Andrade
Elenco: Jesus Tubalcain, Jorge Santos Júnior, Ludoval Campos, Luiz de Miranda, Marta Magadan, Miguel Ramos, Nei Duclós, Nelson Braga, Sérgio Roberto Vargas e Zezo Vargas.

Fonte: Livro “Teatro de Arena - Palco de Resistência” de Rafael Guimaraens.
Postado por TEATRO DE ARENA

Sobre a experiência, Nei Duclós nos diz::

"Minha meteórica "carreira" como ator de teatro, que se resumiu a esta peça, me deixou grandes lembranças. Do amigo Jairo de Andrade, diretor determinado e radical, do maior ator do Brasil Miguel Ramos, com quem tive a honra de dividir uns tiros em cena, com o poeta Luis de Miranda, com Sérgio e Zezo Vargas, com a inesquecível Marta Magadan, com os veteranos Jesus Tubalcaim e Ludoval Campos e todas as pessoas envolvidas nesta montagem. Serviu para eu aprender alguma coisa de teatro e também me convencer de que não sou desse ramo, mas faço parte dele como admirador, torcedor, espectador e, acredito, personagem."

Poema de hoje:

IDADE DA PÓLVORA
Tudo cabe
no paiol de imagens

o mágico, a lógica
a linguagem na flor
da idade

Nada cabe nesta sala
nosso amor, nossa fábrica

Para viver
precisa baixar o vale
como os rios sem nome
e a fome das águias

A solidão é de quem
ataca. a tocaia na mão
com um tacape

A escuridão é teu passo
possível autor
da claridade

(Em "No mar, veremos")

sábado, 28 de março de 2009

Domingo.



fotos: Scanner do livro OUTUBRO, e foto de Juliana

sexta-feira, 27 de março de 2009

Sonhos do poeta

foto: Verão de 1987, com os filhos. Foto de Clovis Heberle (Imbé).

poema de hoje:

MAR DOS NOVE ANOS
O mar na minha infância
como um trem no sonho de um louco
um disco voador na porta dos fundos
como o fim do mundo
com ondas voltando de viagem

O mar como um desastre
como um avião que cai no mar

O mar como nunca
verde-claro com rendas de espuma
a dois passos de mim
como um trunfo, um presente
a ser guardado pera sempre
um bloco de anotações
um lenço dobrado

Como pássaro de sal com plumas de água
o mar levantou vôo na memória
como as pandorgas
que se enforcam nos fios

Aquele mar se afogou no tempo
escapou das mãos como um peixe pequeno

(Nei Duclós no livro OUTUBRO)

quinta-feira, 26 de março de 2009

QUERO UM SORRISO!

"Quero um sorriso que dure uma quadra e dobre a esquina a iluminar-me"
Nei Duclós em OUTUBRO


O POETA DO POVO O livro Outubro, lançado em 1975, é uma articulação dos poemas que Duclós foi soltando primeiro nas praças (da Alfândega, em Porto Alegre, da República em São Paulo, e General Osório, no Rio). Eram escritos com pincel atômico em cartolina branca - o máximo de estética que a radicalidade permitia - ou faziam parte de edições mimeografadas junto com outros dois autores (Marco Celso Viola e Mariza Scopel).

UMA VELHA MALA DE COURO São dessa época os principais poemas, os outros surgiram, na sequência, acumulando-se numa velha mala de couro carregados pelos empregos jornalísticos afora do autor.


O LIVRO DE UMA GERAÇÃO Se reuniram Claudio Levitan, Caio Fernando Abreu, Juarez Fonseca e Ida Duclós para definir aquilo que a mala pedia: o livro de uma geração. A estréia foi viabilizada pela grandeza da então diretora do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul, Lygia Averbruck.


poema de hoje:
QUERO UM SORRISO

Quero um sorriso
que dure uma quadra
e dobre a esquina
a iluminar-me

uma lágrima
sem consolo
que traga um soluço
de dez minutos

um corpo que aperte
com fogo de inferno

uma dor que desperte
um ruído que abra

qualquer coisa
forte
que rasgue
(Nei Duclós em OUTUBRO)

O verso de "Quero um sorriso" saiu recentemente na seção FOCO da revista CARAS e rapidamente se espalhou na rede, conquistando uma nova geração, afinal, quem não quer um sorriso assim? ;)

* foto: ) Livro com marcações do poeta á lápis.

OUTUBRO - 1975 (Livro de Estréia)

*No quintal da casa de Ipanema em Porto Alegre, na época do lançamento de Outubro. Foto de Eneida Serrano.

Uma citação antológica:
(...)
Ney Gastal - Três poetas da nova geração e do teu agrado?

Mario Quintana - Daqui dos pagos ? Ayala, Duclós, Nejar, Trevisan, em ordem alfabética.
(...)
links:
- Entrevista completa que Mário Quintana deu à Ney Gastal

- Post de Nei Duclós no Diário da Fonte sobre a citação

.
poema do dia:

OUTUBRO

Trago a nova: eu mudo
lento, e é tudo
Sinto ser assim
por estações: aos turnos

Posso voltar
ao ponto de partida
mas luto

Sei que vem outubro
Flores, fruto de seiva
romperão no mundo
(Trabalho duro:
sugar de pedras
rasgar os caules
colher ar puro)

Lento e bruto
eu mudo
Sei que vem
outubro

(Nei Duclós no livro "Outubro" 1975)