terça-feira, 31 de março de 2009

Editor.

foto: Na Fiesp, foto de Marcelo Min.

Atenção: O primeiro que comentar este post de forma nao anonima vai ganhar um postal comum de Florianópolis com escritos do poeta.

poema de hoje:

BARREIRA
O poeta sempre escapa
pela reticência
quem quiser pegá-lo
ficará, no máximo
com o casaco

O poeta é o animal
que cruza todas as fronteiras
enquanto pessoas conservam
inúteis soldados
que pedem documentos
(Nei Duclós, em No mar, veremos)

Um objeto.


foto: Caderneta da época do então ginasio que o poeta guarda até hoje. (Aluno Primeiro da classe no Colégio Sant'Ana - Uruguaiana)

poema de hoje:

LIÇÃO DE TRAVESSIA
parece que do outro lado
está a Argentina

As balsas carregadas da infância
sumiram do meu olhar
mas a ponte permaneceu
como eterna promessa
de que todas as margens
podem ser pisadas

O mundo não tem lado certo
pois há uma ponte sólida
por cima de todas as águas

Nei Duclós em Outubro

segunda-feira, 30 de março de 2009

No elenco

no cinema:

foto: Em 1968 ou 9, preparando-se para entrar em cena no curta-metragem dirigido por Juarez Fonseca, "Farsa".

no Teatro de Arena:

Arturo Ui - 1971
Texto: Berthold Brecht
Direção: Jairo de Andrade
Elenco: Jesus Tubalcain, Jorge Santos Júnior, Ludoval Campos, Luiz de Miranda, Marta Magadan, Miguel Ramos, Nei Duclós, Nelson Braga, Sérgio Roberto Vargas e Zezo Vargas.

Fonte: Livro “Teatro de Arena - Palco de Resistência” de Rafael Guimaraens.
Postado por TEATRO DE ARENA

Sobre a experiência, Nei Duclós nos diz::

"Minha meteórica "carreira" como ator de teatro, que se resumiu a esta peça, me deixou grandes lembranças. Do amigo Jairo de Andrade, diretor determinado e radical, do maior ator do Brasil Miguel Ramos, com quem tive a honra de dividir uns tiros em cena, com o poeta Luis de Miranda, com Sérgio e Zezo Vargas, com a inesquecível Marta Magadan, com os veteranos Jesus Tubalcaim e Ludoval Campos e todas as pessoas envolvidas nesta montagem. Serviu para eu aprender alguma coisa de teatro e também me convencer de que não sou desse ramo, mas faço parte dele como admirador, torcedor, espectador e, acredito, personagem."

Poema de hoje:

IDADE DA PÓLVORA
Tudo cabe
no paiol de imagens

o mágico, a lógica
a linguagem na flor
da idade

Nada cabe nesta sala
nosso amor, nossa fábrica

Para viver
precisa baixar o vale
como os rios sem nome
e a fome das águias

A solidão é de quem
ataca. a tocaia na mão
com um tacape

A escuridão é teu passo
possível autor
da claridade

(Em "No mar, veremos")

sábado, 28 de março de 2009

Domingo.



fotos: Scanner do livro OUTUBRO, e foto de Juliana

sexta-feira, 27 de março de 2009

Sonhos do poeta

foto: Verão de 1987, com os filhos. Foto de Clovis Heberle (Imbé).

poema de hoje:

MAR DOS NOVE ANOS
O mar na minha infância
como um trem no sonho de um louco
um disco voador na porta dos fundos
como o fim do mundo
com ondas voltando de viagem

O mar como um desastre
como um avião que cai no mar

O mar como nunca
verde-claro com rendas de espuma
a dois passos de mim
como um trunfo, um presente
a ser guardado pera sempre
um bloco de anotações
um lenço dobrado

Como pássaro de sal com plumas de água
o mar levantou vôo na memória
como as pandorgas
que se enforcam nos fios

Aquele mar se afogou no tempo
escapou das mãos como um peixe pequeno

(Nei Duclós no livro OUTUBRO)

quinta-feira, 26 de março de 2009

QUERO UM SORRISO!

"Quero um sorriso que dure uma quadra e dobre a esquina a iluminar-me"
Nei Duclós em OUTUBRO


O POETA DO POVO O livro Outubro, lançado em 1975, é uma articulação dos poemas que Duclós foi soltando primeiro nas praças (da Alfândega, em Porto Alegre, da República em São Paulo, e General Osório, no Rio). Eram escritos com pincel atômico em cartolina branca - o máximo de estética que a radicalidade permitia - ou faziam parte de edições mimeografadas junto com outros dois autores (Marco Celso Viola e Mariza Scopel).

UMA VELHA MALA DE COURO São dessa época os principais poemas, os outros surgiram, na sequência, acumulando-se numa velha mala de couro carregados pelos empregos jornalísticos afora do autor.


O LIVRO DE UMA GERAÇÃO Se reuniram Claudio Levitan, Caio Fernando Abreu, Juarez Fonseca e Ida Duclós para definir aquilo que a mala pedia: o livro de uma geração. A estréia foi viabilizada pela grandeza da então diretora do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul, Lygia Averbruck.


poema de hoje:
QUERO UM SORRISO

Quero um sorriso
que dure uma quadra
e dobre a esquina
a iluminar-me

uma lágrima
sem consolo
que traga um soluço
de dez minutos

um corpo que aperte
com fogo de inferno

uma dor que desperte
um ruído que abra

qualquer coisa
forte
que rasgue
(Nei Duclós em OUTUBRO)

O verso de "Quero um sorriso" saiu recentemente na seção FOCO da revista CARAS e rapidamente se espalhou na rede, conquistando uma nova geração, afinal, quem não quer um sorriso assim? ;)

* foto: ) Livro com marcações do poeta á lápis.

OUTUBRO - 1975 (Livro de Estréia)

*No quintal da casa de Ipanema em Porto Alegre, na época do lançamento de Outubro. Foto de Eneida Serrano.

Uma citação antológica:
(...)
Ney Gastal - Três poetas da nova geração e do teu agrado?

Mario Quintana - Daqui dos pagos ? Ayala, Duclós, Nejar, Trevisan, em ordem alfabética.
(...)
links:
- Entrevista completa que Mário Quintana deu à Ney Gastal

- Post de Nei Duclós no Diário da Fonte sobre a citação

.
poema do dia:

OUTUBRO

Trago a nova: eu mudo
lento, e é tudo
Sinto ser assim
por estações: aos turnos

Posso voltar
ao ponto de partida
mas luto

Sei que vem outubro
Flores, fruto de seiva
romperão no mundo
(Trabalho duro:
sugar de pedras
rasgar os caules
colher ar puro)

Lento e bruto
eu mudo
Sei que vem
outubro

(Nei Duclós no livro "Outubro" 1975)