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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

AMOR ESTRANHO

NEI DUCLÓS

Eu sou um poeta estranho
Não fumo, não jogo
não tomo banho

A não ser que seja água
que você apanhe
A não ser que seja fumo
que você prepare
A não ser que seja carta
e você ganhe

Você é um amor estranho
Não come, não passeia
não reclama

A não ser que seja eu
quem compre a carne
A não ser que seja praia
e eu te ame
A não ser que seja dor
e eu me cale

Publicado no livro No Mar Veremos, 2001 Ed. Globo

domingo, 5 de abril de 2009

No mar, Veremos

video, realizado por Ferias Floripa: Poema " No Mar, Veremos", do livro do mesmo nome (Ed. Globo, 2001) de Nei Duclós, musicado e cantado por José Gomes, autor da melodia, dos arranjos e da execução dos instrumentos.
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obs.: Eu colocaria modo "tela cheia" :)
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"Lembro que fiquei anos escrevendo o poema. Inventei, na poesia, a lenda do barco que não se entregava, que não se dobrava diante das tormentas, pois sempre voltava e ficava firme na beira. Era uma história da infância transformada pela poesia. Em três ou quatro meses de 1986, quando trabalhava na Lapa de Baixo, em São Paulo, na revista Senhor, eu rescrevi o poema todos os dias. " Nei Duclós
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poema de hoje:
NO MAR, VEREMOS
Nei Duclós

Pescador de rio pequeno
coloca tudo nos eixos:
seu aço guardado em sótão
sua lança quebrada ao meio

Sabe o rumo da tormenta
o passo da palometa
o avesso de toda malha
o limo sob o sereno

Pescador de rio moreno
charrua de preta escama
seu barco já está a prumo
aguarda a voz do minuano

E se vier o mar
com séquito de sereias
a espuma em seu território
a carne suja de areia?

E se vier o mar
usando arpões de baleia
sargaços ardendo em febre
gáveas altas como estrelas?

Pescador tem a resposta
dobrada em lenço vermelho
que aviva os sonhos do sótão
de aço posto nos eixos

Pois o mar é uma lenda
cultivada pelo vento
a porta de um outro mundo
maré de água estrangeira

é uma espécie de terror
com batalhão de tridentes
generais do imperador
roubo de comerciantes

O mar, para um pescador
criado em água corrente
nos arames dos arroios
entre os moirões das fazendas

é uma dança pelo avesso
a trilha do formigueiro
metralha sob a vanguarda
canhão contra baioneta

Pois se vier o mar, veremos
o barco a remo do pampa
puxando um cordão guerreiro

para atiçar a batalha
para tingir os valentes
para costurar a mortalha
do sal que resseca a rede

que suga o sangue farrapo
com sua manha de peixe

Pescador vem do levante
e um milhão atrás dele

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Uma Redação

Foto: equipe original do Jornal de Santa Catarina, lançado em 1971 em Blumenau, e hoje conhecido como Santa e de propriedade da RBS.

links:
- A FOTO E OS FATOS, por Nei Duclós
- CORAÇÃO DE VELUDO , por Nei Duclós
- Os Gaúchos do Santa, por César Valente
- A foto e o amigo, por Sérgio Rubim
- Blog do Mário Medaglia

Nei Duclós mais tarde se mudaria para São Paulo, passando pelas redacoes do jornal Folha de S. Paulo, revistas Brasil 21, Senhor, e IstoÉ. Publicou textos também em O Estado de S. Paulo, Veja e Jornal do Brasil. Atualmente mora em Florianópolis e publica cronicas na Imprensa, para acompanhar visite o DIARIO DA FONTE. Textos sobre a profissao de jornalista voce encontra em seu site.
poema de hoje:

SENHA
Somos nós, os pescadores
que fizemos do rio uma casa
e de todos os rios, uma pátria

Somos nós, os pescadores
que cruzamos cidades amargas
com os remos fora d’água
e o rosto lavado em sal

Somos nós, os pescadores
Que nos reunimos em silêncio
ao redor do amanhecer
com o sol preso na mão
e a rede tensa

Somos nós o horizonte
onde aportarão os exércitos
sem direção

Levantar um braço, então
será o bastante
(Nei Duclós, em No mar, Veremos)

terça-feira, 31 de março de 2009

Editor.

foto: Na Fiesp, foto de Marcelo Min.

Atenção: O primeiro que comentar este post de forma nao anonima vai ganhar um postal comum de Florianópolis com escritos do poeta.

poema de hoje:

BARREIRA
O poeta sempre escapa
pela reticência
quem quiser pegá-lo
ficará, no máximo
com o casaco

O poeta é o animal
que cruza todas as fronteiras
enquanto pessoas conservam
inúteis soldados
que pedem documentos
(Nei Duclós, em No mar, veremos)

segunda-feira, 30 de março de 2009

No elenco

no cinema:

foto: Em 1968 ou 9, preparando-se para entrar em cena no curta-metragem dirigido por Juarez Fonseca, "Farsa".

no Teatro de Arena:

Arturo Ui - 1971
Texto: Berthold Brecht
Direção: Jairo de Andrade
Elenco: Jesus Tubalcain, Jorge Santos Júnior, Ludoval Campos, Luiz de Miranda, Marta Magadan, Miguel Ramos, Nei Duclós, Nelson Braga, Sérgio Roberto Vargas e Zezo Vargas.

Fonte: Livro “Teatro de Arena - Palco de Resistência” de Rafael Guimaraens.
Postado por TEATRO DE ARENA

Sobre a experiência, Nei Duclós nos diz::

"Minha meteórica "carreira" como ator de teatro, que se resumiu a esta peça, me deixou grandes lembranças. Do amigo Jairo de Andrade, diretor determinado e radical, do maior ator do Brasil Miguel Ramos, com quem tive a honra de dividir uns tiros em cena, com o poeta Luis de Miranda, com Sérgio e Zezo Vargas, com a inesquecível Marta Magadan, com os veteranos Jesus Tubalcaim e Ludoval Campos e todas as pessoas envolvidas nesta montagem. Serviu para eu aprender alguma coisa de teatro e também me convencer de que não sou desse ramo, mas faço parte dele como admirador, torcedor, espectador e, acredito, personagem."

Poema de hoje:

IDADE DA PÓLVORA
Tudo cabe
no paiol de imagens

o mágico, a lógica
a linguagem na flor
da idade

Nada cabe nesta sala
nosso amor, nossa fábrica

Para viver
precisa baixar o vale
como os rios sem nome
e a fome das águias

A solidão é de quem
ataca. a tocaia na mão
com um tacape

A escuridão é teu passo
possível autor
da claridade

(Em "No mar, veremos")